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quinta-feira, 14 de março de 2013

O menino do pijama listrado- Capítulo 20 - O último capítulo

Nada mais se soube de Bruno depois disso.
Muitos dias mais tarde, depois que os soldados haviam revistado cada canto da casa e ido a todas as cidades e vilas com fotos do garoto, um deles descobriu a pilha de roupas e as botas que Bruno acomodara perto da cerca. O soldado deixou tudo lá, intocado, e foi buscar o comandante, que examinou a área e olhou para a esquerda e para a direita assim como Bruno fizera, sem ser capaz de compreender o que acontecera ao filho. Era como se ele tivesse simplesmente desaparecido da face da Terra e largado as roupas para trás.
A mãe não voltou a Berlim tão rápido quanto esperava. Ficou em Haja-Vista por muitos meses à espera de notícias de Bruno, até que um dia, muito subitamente, pensou que ele tivesse ido sozinho para casa, e então de imediato retornou à casa antiga, de certo modo acreditando encontrá-lo sentado na soleira da porta, esperando por ela.
É claro que ele não estava lá.
Gretel voltou a Berlim com a mãe e passava boa parte do tempo chorando sozinha em seu quarto, não porque havia jogado fora todas as suas bonecas, nem porque havia deixado os mapas para trás em Haja-Vista, e sim porque sentia muito a falta de Bruno.
O pai ficou em Haja-Vista por mais um ano depois daquilo e acabou sendo hostilizado pelos outros soldados, nos quais mandava e desmandava sem escrúpulos. Todas as noites ele dormia pensando em Bruno e quando acordava estava pensando nele também. Um dia ele formulou uma teoria sobre o que poderia ter ocorrido e foi novamente até o ponto na cerca onde as roupas haviam sido encontradas um ano antes.
Não havia nada de especial naquele lugar, nada de diferente, mas então ele explorou um pouco e descobriu que naquele ponto a parte de baixo da cerca não estava tão bem fixada ao chão quanto nas demais, e que, quando erguida, a cerca deixava um vão grande o bastante para uma pessoa pequena (como um menino) conseguir passar por baixo rastejando. Ele olhou para a distância e seguiu alguns passos lógicos e, ao fazê-lo, percebeu que as pernas não estavam funcionando direito – como se não pudessem mais manter seu corpo ereto – e acabou sentado no chão, quase na mesma posição em que Bruno passara as suas tardes durante um ano, embora sem cruzar as pernas sob si.
Alguns meses mais tarde alguns soldados vieram a Haja-Vista, e o pai recebeu ordens de acompanhá-los, e foi sem reclamar, contente de ir com eles, pois não se importava com o que lhe fizessem agora.
E assim termina a história de Bruno e sua família. Claro que tudo isso aconteceu há muito tempo e nada parecido poderia acontecer de novo.
Não na nossa época.

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